A hora da caça para quem tem fome de M&A
Nos últimos anos, muitos especialistas têm defendido e empresas têm adotado uma política financeira que preconiza uma redução profunda da…
Nos últimos anos, muitos especialistas têm defendido e empresas têm adotado uma política financeira que preconiza uma redução profunda da preocupação com o balanço da companhia. Nesse sentido, temos visto diversas corporações, desde startups a empresas tradicionais e gigantes, acumulando prejuízos com a perspectiva de que os lucros, quando vierem, serão massivos e compensarão rapidamente todas as perdas dos exercícios anteriores.
Embora essa abordagem tenha permitido recentemente que muitas companhias façam grandes investimentos em inovação e tecnologia, a verdade é que tal conceito se mostra falho nesse momento de crise provocado pela pandemia do coronavírus, onde a atividade econômica se contrai ao redor do mundo e as receitas despencam na maioria dos setores.
Grandes prejuízos acumulados, em alguns casos da ordem de grandeza de milhões de reais, acabam por reduzir de maneira importante a capacidade de manobra da empresa, que se vê forçada a dispensar colaboradores, interromper ações anteriormente planejadas e, em certas situações, abrir mão de ativos.
Por outro lado, nesse período, empresas que conduzem suas finanças a partir de uma visão mais tradicional, com busca do equilíbrio entre receitas e despesas, apresentam uma grande vantagem competitiva e isso já tem se feito perceber no cenário de Fusões & Aquisições em diferentes mercados.
Apenas nos últimos dias, vimos na imprensa especializada informações dando conta das compras da fintech Fliper pela XP Investimentos e da Softomotive pela Microsoft e, na área de saúde, da Paraná Clínica pela SulAmérica e da rede mineira São Marcos pela Dasa.
E esses são apenas alguns exemplos de movimentações no mercado que devem se intensificar nas próximas semanas devido à reabertura gradual da economia no Brasil e outras partes do mundo. Outra causa é o represamento de fusões e compras observado durante os meses de quarentena mais restrita. Segundo a consultoria Gartner, o volume de transações entre empresas caiu 65% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com igual período do ano passado.
Parte dessa queda será revertida até o final do ano, espera a consultoria. Porém, o que se deve ver são movimentos como os dos exemplos citados acima. Grandes empresas aumentando sua participação no mercado adquirindo companhias menores e regionais, assim como startups que garantam a entrada facilitada da empresa em setores específicos e/ou aumentando seu portfolio de opções oferecidas aos clientes.
Além disso, a expectativa é de que a crise atual apresente, assim como crises anteriores, um padrão de aquisições com base nas demandas e gargalos de funcionamento das empresas identificados durante o período de abalo da economia. Na crise de 2001, por exemplo, as companhias focaram na compra de ferramentas para incrementar seus serviços de e-commerce enquanto a crise de 2008 elevou a busca por soluções de armazenamento em nuvem.
Nesse sentido, a crise atual — e sua característica de ter levado milhões de pessoas a trabalhar de casa — tende a fazer crescer a busca por empresas que detenham tecnologias para facilitar o trabalho remoto e outras formas de interação virtual.
Em resumo, empresas que cuidaram bem de suas finanças nos últimos anos hoje possuem mais chances de sobreviver ao cenário recessivo causado pelo coronavírus. Pode parecer muito óbvio dizer isso, mas muitas companhias parecem ter esquecido dessa regra básica e agora se veem em apuros, perdendo espaço para a concorrência e até mesmo sendo absorvidas por antigos rivais.