A nova era das baterias finalmente está próxima
Você pode fazer o teste agora, com seu celular. Pegue a bateria e você verá que se trata de um modelo de íons de lítio. O lítio é o…
Você pode fazer o teste agora, com seu celular. Pegue a bateria e você verá que se trata de um modelo de íons de lítio. O lítio é o material utilizado em praticamente todas as baterias ao redor do mundo. A escolha desse elemento se baseia no seu baixo peso e alta densidade energética, o que o torna, portanto, excelente para as baterias.
No entanto, há alguns grandes inconvenientes no uso de lítio. Em primeiro lugar, é um material raro, com reservas concentradas na China e Estados Unidos (o Brasil tem a quarta maior reserva do mundo de lítio). Além disso, sua extração provoca grandes danos ambientais. Isso contribuiu para que nos últimos pesquisadores de todo o mundo tenham buscado alternativas aos íons de lítio para a fabricação de baterias.
E uma mudança completa nesse mercado pode estar próxima. No início do mês, pesquisadores do Instituto Politécnico Rensselaer (Estados Unidos) publicaram um artigo apresentando avanços consideráveis na criação de baterias à base de potássio. A aposta no potássio como substituto do lítio se justifica pela sua maior abundância (as maiores reservas estão na Rússia, mas o potássio é encontrado em todos os continentes) e desempenho similar aos íons de lítio.
No entanto, para que a sua performance seja equivalente ao lítio, algumas questões precisam ser resolvidas. E é isso que os cientistas que assinam o trabalho publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) parecem ter conseguido.
O primeiro problema de baterias de íons de potássio é que esse elemento é mais pesado e tem menor densidade de energia do que o lítio. Assim, a tradicional combinação do lítio com o grafite — polo negativo e positivo, respectivamente — das baterias que conhecemos hoje em dia não é eficaz com a introdução do potássio.
Curiosamente, a solução da equipe da instituição americana para isso foi criar uma bateria onde os dois polos são feitos de potássio. Há, porém, outra questão em aberto. Qualquer metal utilizado em baterias forma, ao longo do tempo, os chamados dendritos, prolongamentos do metal que colocam em risco o funcionamento e a segurança da bateria.
Para combater esse problema, os pesquisadores desenvolveram um sistema de “autocura” da bateria, que elimina por conta própria os dendritos. Esse sistema, de difícil aplicação nas baterias de lítio, pode ser a chave para uma mudança completa no paradigma.
Caso o processo consiga ser replicado por outros grupos e em baterias maiores (as versões criadas pelos pesquisadores de Rensselaer são de tamanho reduzido), podemos ver em um curto espaço de tempo o surgimento de uma alternativa potencialmente mais barata e mais limpa aos modelos convencionais de bateria.
Esse breve caso é um bom exemplo dos tempos que vivemos. Investimento em pesquisa e desenvolvimento que gera uma mudança completa de rota em todo o mundo, afetando mercados multibilionários com rapidez. Por isso, vale frisar, é preciso estar atento a todos os movimentos do mercado, como os players se comportam, abraçam e abrem novas perspectivas. Mudanças de alto impacto podem estar a um passo de distância e devemos estar preparados para elas.