Como será a saída da crise para as empresas?
No seu best-seller Armas, Germes e Aço, de 1998, o biólogo e escritor Jared Diamond argumenta que os principais impulsionadores de…
No seu best-seller Armas, Germes e Aço, de 1998, o biólogo e escritor Jared Diamond argumenta que os principais impulsionadores de mudanças em uma sociedade são as guerras (armas), epidemias (germes) e revoluções técnicas (aço). Nesse sentido, podemos prever que alguns setores sofrerão ajustes para continuar os negócios no mundo pós-pandemia do coronavírus, diferente daquele que experimentávamos antes do surgimento da doença e as políticas de quarentena no Brasil e no mundo.
Porém, o que muito provavelmente veremos no ‘dia seguinte’ à pandemia não é uma completa mudança de paradigma econômico e social no mundo. Na verdade, o que a nossa vida de cabeça para baixo nesses tempos mais certamente tende a fazer é acelerar processos que estavam fermentando nos últimos anos e que devem ser implementados por completo de maneira mais rápida.
E a tecnologia é o fator agregador de todas essas novidades. Uma das mudanças mais fundamentais diz respeito à digitalização das instituições. Com a proibição de aglomerações, o Congresso Nacional e o STF já têm realizado sessões virtuais e decisões muito importantes têm sido tomadas nesse formato, demonstrando toda a validade do recurso.
Ao mesmo tempo, a Caixa Econômica Federal montou um grande esquema digital para realizar os pagamentos do auxílio emergencial do governo a trabalhadores autônomos e informais afetados pelo coronavírus. Até a publicação desse artigo, quase 50 milhões de brasileiros solicitaram o benefício e cerca de 30 milhões de poupanças digitais foram abertas pelo banco via solicitação dos usuários por um aplicativo.
Vejamos a situação em perspectiva. Em menos de um mês, passamos de um cenário praticamente 100% analógico (quase 600 congressistas do país inteiro reunindo-se em um salão em Brasília e filas para abertura de conta em agências de banco) para quadros totalmente digitais. Tudo isso sem afetar a validade das medidas e a segurança de dados (e a saúde de qualquer um dos envolvidos).
É esse o tipo de efeito que veremos em muitas e muitas áreas nas próximas semanas ou meses. Situações que antes eram compreendidas como necessariamente analógicas ou que caminhavam a passos de formiga rumo à digitalização foram subvertidas do dia para a noite.
Os exemplos são muitos, como a chamada telemedicina, ou seja, o atendimento médico a distância, que era alvo de forte lobby contrário das entidades médicas foi aprovada em dias pelo Congresso. Mais um: no varejo, muitas lojas desenvolveram serviços de entrega e atendimento virtual que reduzem o atrito da experiência do cliente e mostram como o púbico está pronto e desejoso de formas diferentes de contato com suas marcas favoritas.
Um outro exemplo foi a valorização de planos, testes e políticas que nunca eram priorizadas e que agora conseguem ganhar força para que empresas tenham sua maturidade elevada em áreas como cyber segurança, plano de recuperação de desastres ou mesmo um simples plano de continuidade de negócios com o mapeamento de processos críticos e lista de contatos e backups das pessoas chaves que operam esses processos.
Assim, podemos concluir que a retomada da vida pós-pandemia será um recomeço a partir de um novo ponto de partida, onde iniciativas digitais estarão na ordem do dia e mudanças há muito esperadas já estarão consolidadas no pensamento e na ação das empresas. Com o público cada vez mais habituado às interações digitais e as possibilidades que essa realidade proporciona, novos serviços e ocupações surgirão, custos poderão ser reduzidos e a tecnologia será mais do que nunca a chave para o sucesso de qualquer negócio.
Quem sabe, como nos memes da internet, o Covid-19 seja sim um grande impulsionador para a transformação digital nas empresas. Se não como principal motivo, mas pelo menos um início de uma discussão que nunca deveria ter saído da mesa dos boards e C-level que é como tecnologia ajuda o negócio a se manter e inovar, reduz custo ou alavanca iniciativas visando lucro. Mas principalmente, como a tecnologia reduz o gap na interação humana e automatiza processos.