Desafios e estratégias para o transporte de carga em grande escala
A crise do coronavírus também é um desafio de logística. Com grandes cidades em quarentena, populações com renda reduzida e impactos…
A crise do coronavírus também é um desafio de logística. Com grandes cidades em quarentena, populações com renda reduzida e impactos profundos sobre o transporte internacional, o setor de importação e exportação tem sofrido de maneira significativa as consequências da pandemia.
Em todos os modais de frete de produtos — navios, aviões e trens — as quedas de receitas já afetam a operação de muitas empresas e o principal temor para os próximos meses diz respeito a como manter a competitividade sem abrir mão de parcela significativa dos lucros enquanto contêineres e vagões permanecem vazios ao redor do mundo.
Um setor que é muito afetado é o transporte aéreo. Com diversos países impondo largas restrições à entrada de estrangeiros em seu território, aeroportos e companhias aéreas têm registrado reduções da ordem de 90%. Isso impacta diretamente no transporte de cargas, uma vez que boa parte dos voos comerciais também servem para mover produtos entre países e regiões.
Previsão: queda no volume de bens transportados em navios de carga caia 15% no segundo trimestre de 2020
No entanto, por ser bem mais caro que outras opções, o transporte aéreo não responde por um volume tão expressivo do frete mundial. Esse papel é representado pelo tráfego de navios cargueiros, alternativa que, apesar de mais demorada, é mais barata pela quantidade de bens que cada embarcação comporta.
Nesse setor, contudo, os prejuízos da crise sanitária também tem sido sentidos. Inicialmente, há dificuldades diretamente relacionadas à pandemia, como a obrigação imposta por muitos portos de que navios permaneçam 14 dias ancorados antes de descarregar para garantir que nenhum membro da tripulação está infectado. A mesma situação muitas vezes impede que as equipes deixem o navio. Tais situações por si só já provocam aumento dos gastos e perda de eficiência.
Junto a isso ainda há uma redução expressiva da demanda por produtos. Estimativa da consultoria britânica Drewry prevê uma queda no volume de bens transportados em navios de carga caia 15% no segundo trimestre de 2020. Detalhe: mesmo em momentos anteriores de grave crise, esse índice sempre se manteve em alta nas últimas décadas.
Essa expressiva redução é explicada, conforme a empresa, por dois fatores principais: a interrupção de largas cadeias de fornecimento no início do ano devido ao lockdown de muitas regiões industriais chinesas e a consequente perda da capacidade financeira das populações afetadas pela pandemia, em especial na Europa e Estados Unidos, o que reduziu a compra de bens não essenciais.
Para os especialistas no setor de logística, a saída para a grave crise é repensar as cadeias de produção e distribuição. Nos últimos anos, com o boom da China, muitas empresas passaram a apostar na compra de produtos do sudeste asiático e estoques cada vez mais reduzidos.
Agora, a tendência parece ser o caminho inverso, com incentivo à produção local, mais aproximada geograficamente, para impedir que abalos globais afetem a capacidade de se levar os produtos até o destinatário final. Para isso, porém, é preciso investimento em indústria e redes de transporte de carga mais efetivas que o modal rodoviário. Dois pontos que nós aqui no Brasil temos seguido em sentido contrário. Será que estaremos aptos a fazer essa reversão?