Funcionário feliz é cliente feliz
Se empresas são formadas por pessoas, por que algumas delas ainda têm tanta dificuldade para cuidar de seus funcionários?
Se empresas são formadas por pessoas, por que algumas delas ainda têm tanta dificuldade para cuidar de seus funcionários?
Já faz tempo que ando pensando sobre isso. Com tanto buzz sendo criado sobre temas como transformação digital, evoluções técnicas e sucesso do cliente, vejo uma grande lacuna entre o discurso que enxerga os clientes como pessoas com motivações e o discurso que trata funcionários como um crachá.
Se você tem acompanhado um pouco sobre data-driven, sabe que existe uma infinidade de ferramentas, relatórios, funcionalidades e afins que coletam informações sobre nós, consumidores, e visam tornar nossa vida mais fácil. As empresas querem saber tudo sobre nós para criar melhores experiências e estimular nossa vontade de criar relacionamentos de longo prazo com elas.
Não quero dizer que todo esse empenho das empresas em se aproximar dos clientes está errado. O que quero é questionar o porquê dessa mentalidade de sucesso do cliente não ser usada internamente nas empresas.
Por exemplo, vamos falar de você. Você tem sua motivação. Tem seu próprio comportamento. Tem preferências individuais e uma história de vida que tornam você quem é. Sendo. transparente: não acredito que seja possível separar todos esses fatores da sua persona profissional.
Se devemos vestir a camisa das empresas, também é preciso que elas vistam a nossa e passem a nos entender de um modo menos superficial.
É preciso que empresas como um todo se perguntem como ajudar seus funcionários a alcançar suas metas, sendo elas pessoais ou profissionais. É preciso que as empresas passem a enxergar seus funcionários como pessoas com necessidades, medos e sonhos.
É preciso que as empresas passem a enxergar seus funcionários como pessoas com necessidades, medos e sonhos.
Enquanto lê este artigo, você pode estar pensando que uma mudança neste sentido é improvável. Sei que muitas pessoas vão pensar que o vínculo entre empregado e empregador é regido pelo salário pago lá no quinto dia útil, e que as coisas vão ficar por aí mesmo.
Mas gosto de lembrar de que houve um tempo em que as empresas pensavam de forma semelhante sobre seus clientes. E, hoje, todo mundo está trabalhando loucamente para tornar os consumidores apaixonados. Não importa se você é de TI, ou de marketing, ou de qualquer outra área: seu cliente está no centro de tudo o que você faz.
Mas, então, chegamos à uma pergunta interessante: Por que as empresas não usam toda a inteligência tecnológica que possuem para cuidar melhor de suas pessoas?
Por que não há todo um hype acerca de métodos e ferramentas que vão ajudar empresas a manter seus clientes internos felizes? Por que as empresas não se preocupam em fidelizar seus funcionários? Por que é tão difícil encontrar empresas que realmente dão a devida importância para as pessoas que as compõem?
Por mais que as respostas possam parecer óbvias para você, vale a pena procurar outros pontos de vista para respondê-las.
Na semana passada, escrevi sobre como pessoas são — ou ao menos deveriam ser — o foco de uma transformação digital. Do mesmo jeito, acredito que pessoas deveriam ser o foco de uma estratégia de negócios, e de marketing, e de serviço ao cliente, e de todo o resto.
Toda empresa quer ser orientada a negócios. Toda empresa quer colocar o cliente no centro de tudo. Toda empresa quer se tornar referência no mercado — mas ainda é difícil encontrar empresas que queiram ser reconhecidas pelo constante cuidado com as pessoas que estão ali, dia após dia, tirando seus projetos do papel.
O próprio conceito de home-office (que é bem diferente do que estamos vivenciando, afinal estamos em confinamento) já foi algo super longe de ser discutido e hoje é algo que muitas empresas estão usando como um diferencial para atrair talentos. No livro Flex or Fail, os autores abordam justamente esse conceito em relação ao mercado, clientes e funcionários. Fica cada vez mais evidente que a empresa que conseguir reunir o melhor time e promover o engajamento de médio e longo prazo vai conseguir desenvolver os melhores produtos e, por consequência, liderar o mercado. Já que, como diria Simon Sinek, quem não entende de pessoas, não entende de negócios.
Quem não entende de pessoas, não entende de negócios. — Simon Sinek
Para fechar essa reflexão, vou apenas dizer que as pessoas estão atentas. Um indicador que pode confirmar essa hipótese é que, segundo o Great Place to Work, as 150 melhores empresas para trabalhar do Brasil receberam 8,6 milhões de currículos no último ano, com uma média de 57 mil por empresa. Um número muito superior a empresas que só olham para clientes. Isso não é coincidência.
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