O papel do data-driven na construção de novas economias
A pandemia do coronavírus teve e continua tendo uma série de efeitos sobre como os seres humanos levam suas vidas. Dar novo significado à…
A pandemia do coronavírus teve e continua tendo uma série de efeitos sobre como os seres humanos levam suas vidas. Dar novo significado à maneira como vivemos é uma resposta natural a mudanças drásticas que nos forçam, por exemplo, a nos isolar socialmente ficando em casa o máximo possível.
Abro este artigo com o contexto acima porque tanto mudanças quanto significados ao nosso redor são influenciados pela tecnologia e suas inovações. E, como você já deve saber, a tecnologia não é estática. Ela se expande, encontrando novos caminhos para se desenvolver. Temas como: inteligência artificial, blockchain, criptografia e transformação digital são discutidos e trabalhados nas empresas frequentemente.
Nesse contexto, são geradas algumas questões, tais como: Como mitigar os impactos da desinformação e fake news nesse ambiente rico em benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos? Nossos dados estarão seguros? Teremos privacidade? ¹
Há uma quantidade considerável de questões à serem respondidas . Esses temas foram recentemente abordado pelo The Wall Street Journal e nos deu o seguinte questionamento:
“Como a tecnologia e o uso de dados pode ajudar economias a serem mais resilientes?”
Por resiliente, quero dizer uma economia que se mantenha e que se molde diante de uma crise como a que estamos enfrentando. A importância desse ponto é porque estamos vendo diferenças sociais e lacunas econômicas sendo intensificadas pela pandemia. A tecnologia tem tornado a vida mais acessível ao longo dos anos e é fundamental para que governos e empresas passem a usar dados de maneira mais transparente, inteligente e transformadora.
Para saber se isso é possível, vou trazer alguns insights sobre data-driven no contexto econômico.
O primeiro tem a ver com as novas possibilidades do uso dos nossos dados. Concedemos acesso a várias empresas para que saibam, basicamente, o que fazemos, o que compramos e com quem falamos. É importante refletir se ainda assim, seria possível que tivéssemos mais controle sobre esses dados, se poderíamos nos unir a favor de que eles fossem usados para endereçar problemas civis, etc.
Há muitos fatores a considerar quando falamos sobre economias sendo mais responsivas às necessidades da sociedade, e seria interessante cogitarmos o impacto que o uso de dados tem a ver com isso. Imagine, por exemplo, que existam organizações cujo objetivo é exigir melhor uso desse tipo de informação, e que tratem nossos dados de maneira mais eficiente e clara.
O segundo insight está relacionado à desigualdade entre grandes e pequenas empresas no contexto de tratamento de dados. Apesar de entender que no momento atual a captação de dados é virtualmente igual, quando se trata de tratar tais dados a fim de oferecer uma experiência diferenciada ao cliente, a desigualdade citada pode impactar por limitações de recurso e afins. . Em Building the New Economy, Alex Pentlant sugere a formação de ecossistemas de dados confiáveis para tornar seu uso mais democrático.
No entanto, se considerarmos que um modelo de acesso democratizado, permitindo que pessoas físicas e/ou jurídicas os manipulem como proprietárias de dados, temos que pensar em um novo sistema colaborativo. Atualmente, empresas trabalham para competir umas com as outras com perfis altamente restritivos, diferente do conceito fundamental da internet de compartilhar dados de maneira democrática com os usuários.
Isso nos leva ao terceiro insight: novos usos de dados e relacionamentos entre marcas, governos e consumidores precisam operar de maneira interconectada. Enquanto não for permitido que conhecimento e interação fluam sem dificuldade de um espaço para outro, a economia continuará refém do modelo velho de fazer negócios, de estimular o consumo e de governar.
Esse modelo velho é tudo, menos resiliente. Nele, o poder está concentrado na mão de poucas empresas e pessoas, que têm seus motivos para manter o status quo. E o status quo não irá nos salvar de episódios como a pandemia do coronavírus. Futuramente teremos outras crises. Talvez descentralizar a informação seria uma maneira de trabalhar novas maneiras de guiar sociedades e fazer negócios mais sustentáveis?
É óbvio que quando falamos em data-driven neste novo futuro hipotético, temos que nos atentar à segurança e a processos legais que garantam confiabilidade. A boa notícia é que é possível desenvolver esses processos de maneira transparente. Porém, isso só vai acontecer quando estivermos aptos a calibrar a legalidade de práticas digitais que protejam dados e usuários de más intenções.
Ainda estamos longe de uma realidade em que economias se adaptem rapidamente para serem resilientes e usar da tecnologia para basear ações que beneficiem cidadãos e consumidores. Isso é igualmente triste e preocupante pois, como disse Mark Carney, governador do Banco da Inglaterra:
“a resiliência local será mais importante do que a eficiência global após a pandemia”
Acho que teremos que esperar para ver.
[1] — Em tempos de LGPD, e todas as gigantescas lacunas de entendimento que o texto da lei gera, as empresas estão se dividindo em dois grupo: o primeiro está focado na adequação necessária à legislação. O segundo grupo está aproveitando a oportunidade para estruturar e garantindo a segurança dos seus dados. Fazendo deles um ativo diferenciado em termos competitivos. Para quem não está envolvido no tema, vou resumir em linhas gerais os problemas que grande parte das empresa estão passando: TODOS concordam que devemos ter uma regulamentação sobre os dados. Porém, entretanto, todavia, o texto não tem grandes definições sobre temas igualmente importantes, quando se aprova uma lei do tipo, definições de quando e como a empresa pode ser autuada entre outros “detalhes” que são super importantes. Como dizem: desapontado, mas não surpreso.