Porque deveríamos olhar para a China pt.2
Na semana passada, escrevi um artigo defendendo que o Brasil deve se espelhar na China e não nos Estados Unidos, nosso principal modelo…
Na semana passada, escrevi um artigo defendendo que o Brasil deve se espelhar na China e não nos Estados Unidos, nosso principal modelo atualmente, para suas ações no campo do varejo (especialmente digital). Os motivos eram, sobretudo, de natureza demográfica. Somos um país de classe média em ascensão e acesso mediano à Internet, realizado em boa medida através de smartphones e não tanto de desktops.
Porém, poucos já conhecem o que de fato é o modelo chinês e porque o chamado Novo Varejo é a mudança mais profunda das últimas décadas nas formas de vender e comprar, uma verdadeira revolução em curso que o mercado brasileiro precisa ficar atento e pode ter certas ações replicadas para prover o consumidor do nosso país de novas e significativas experiências de compra em tempos de Indústria 4.0.
Bom, tudo começa com um grupo: o Alibaba. Relativamente conhecido no Brasil por conta do site AliExpress, que vende de roupa íntima a drones em uma mesma plataforma, o Alibaba é um conglomerado que é o líder e a cara da revolução do varejo chinês. Sua força pode ser exemplificada por um recorde obtido em setembro de 2014. A IPO — oferta pública inicial de ações — do conglomerado na Bolsa de Nova York foi a maior da História, movimentando US$ 25 bilhões. Dois anos antes, a IPO do Facebook gerou “apenas” US$ 16 bilhões.
E o que leva o Alibaba a ser tão gigantesco? Em resumo, big data e capacidade de inovação. Antes de nos aprofundarmos na questão, vale um parêntesis. O mundo digital na China é diferente de qualquer coisa que nós no Ocidente conhecemos. Devido às restrições impostas pelo governo a companhias como o Google, o país possui redes sociais, buscadores e todo um ambiente digital próprio. E há grandes plataformas que integram uma série de serviços, como o WeChat. Nascido como aplicativo de mensagens, o app hoje serve para pedir comida, comprar uma infinidade de produtos, chamar um táxi e fazer pagamentos, tudo em uma mesma interface.
Essa integração impressionante, associada à população de mais de 1 bilhão de chineses, é o que garante ao Alibaba e outros grupos (o WeChat, por exemplo, é da Tencent) um arsenal de informações para anunciar produtos e serviços com alto grau de personalização, o que aumenta consideravelmente as taxas de conversão e fidelização de clientes. Mas a inovação não para no meio digital e nas possibilidades que ele oferece atualmente. Pelo contrário, o conceito de Novo Varejo — criado pelo Alibaba, aliás — pressupõe a combinação e a quebra de fronteiras entre online e offline para fazer surgir, de fato, um novo paradigma de consumo.
É fato também que o Novo Varejo foi na China já deu alternativas muito expressivas para três pilares do varejo: ponto de venda (vitrine — seja online ou offline), pagamentos (ou micropagamentos com integrações entre plataformas financeiras e análise de riscos diferentes da praticadas por aqui) e frete (com canais de distribuição que incluem sim drones, mas não se restringem ao uso exclusivo dele para inovações nesse segmento).
Um dos exemplos de maior destaque são os supermercados Hema — do Alibaba, é claro. Nele, é possível fazer compras da maneira convencional ou selecionar os produtos através de um aplicativo que também integra informações adicionais sobre cada item e uma ferramenta de pagamento para driblar filas no caixa. Caso a pessoa more em um raio de 3 km do mercado, o Hema garante a entrega em meia hora. Por outro lado, um dos destaques do Hema é sua seção de frutos do mar. Peixes e crustáceos nadam em grandes tanques de água. É só escolher o seu preferido e o modo de preparo. Quando estiver pronto, você recebe uma notificação pelo app e come na própria loja ou leva para casa.
Esse é o tripé em que se apoia o Novo Varejo: informação, inovação e serviço de alta qualidade, tudo integrado para entregar experiências de consumo marcantes e conquistar o público. É esse o caminho que devemos seguir por aqui. Apostar nas tecnologias não como rivais do offline, mas um complemento para permitir que ele mantenha sua relevância e floresça, oferecendo o que há de melhor dos dois mundos para os nossos clientes.
Originalmente publicado no LinkedIn em 18 de dezembro de 2018.